"Temos de fugir daqui"
8.46 h
Torre Norte
Uma bomba, pensou Dianne DeFontes, logo que conseguiu recomeçar a pensar. Às 846:30, um impacte tinha-a feito cair de uma cadeira do escritório de advogados situado no 89.º andar da torre norte, o Edifício 1 do World Trade Center. Embora ela a tivesse trancado, a porta escancarou-se. Noutra parte do andar, Walter Pilipiak tinha acabado de abrir o escritório da Cosmos International, uma agência de seguros de que era presidente. Akane Ito tinha-lhe sentido os passos e levantara a cabeça para o cumprimentar. Antes que Pilipiak conseguisse pronunciar "Bom dia", sentiu uma espécie de pancada no pescoço e foi atirado contra a parede. Akane Ito foi bombardeado com placas do tecto. Passados instantes, recuperado o fôlego, ambos pensaram numa bomba.
Instalada na extremidade sudoeste do 89.º piso, a MetLife, uma companhia de seguros, dispunha de 930 metros quadrados. Após o embate inicial, Rob Sibarium sentiu todo aquele espaço a curvar-se quando a torre pendeu para sul, numa inclinação de que parecia nunca mais recuperar. Contudo, lentamente, voltou a endireitar-se. Algo teria acontecido no outro edifício, pensou Sibarium. Uma explosão.
Mike McQuaid, o electricista que estava a instalar alarmes contra fogo, tinha a certeza de saber o que acontecera o estoiro de um transformador de qualquer casa de máquinas, algures, abaixo do 91.º piso. Só uma explosão do género seria capaz de fazer que o edifício estremecesse com tanta violência.
No átrio, Dave Kravette, depois de terminada a conversa com a mulher por causa da entrega do jornal, acabara de descer do escritório da firma Cantor Fitzgerald para receber os seus convidados. A poucos passos do elevador ouviu um estrondo tremendo, que lhe pareceu ser a queda de um dos elevadores. A seguir, viu uma bola de fogo a escapar-se do poço de um dos elevadores. As pessoas à volta dele atiraram-se para o chão. Kravette ficou paralisado e viu a chama regredir por si mesma.
"Atirou-me com o telefone", recorda-se Louis Massari de ter pensado. A mulher, Patricia, tinha estado a informá-lo de que comprara um segundo teste de gravidez. O primeiro, feito pela manhã, tinha resultado positivo, o que fora uma surpresa. Patricia trabalhava como analista financeira, no 98.º andar da torre norte, para Marsh & McLennan, um grupo segurador e financeiro; frequentava a universidade em regime nocturno. O teste de gravidez não lhe saía da cabeça; ultrapassava em importância o exame que teria nessa noite na faculdade e ela tinha estado a lamuriar-se. Isso queria dizer que tinham muito que conversar.
- Oh, meu Deus...! - exclamara, e Louis não ouviu mais nada. Tinha escorregado, pensou, e puxado o fio do telefone, desligando a ficha.
Ainda mais acima, no 106.º piso, Howard Kane, o director financeiro do Windows on the World, estava a falar ao telefone com a esposa, Lori. Kane deixou cair o telefone, ou assim pensou a mulher, por causa dos sons, clamores e alarmes, os sinais de ansiedade, mais do que as palavras exactas, que lhe encheram os ouvidos. Talvez ele tivesse tido um ataque cardíaco. A seguir ouviu uma mulher gritar - Oh, meu Deus, estamos fechados - enquanto o marido apenas gritou: - Lori!
Depois, outro homem pegou no telefone e disse - Há um incêndio. Temos de ligar para o 911.
Da sala do Windows on the World onde se realizava a conferência, Caleb Arron Dack, um consultor de informática, telefonou à mulher, Abigail Carter, através do telemóvel. - Estamos no Windows on the World. Explodiu uma bomba - explicou. Não conseguia ligar para a linha de emergência da Polícia. Precisava que Abigail fizesse a ligação para o 911 em vez dele. A bomba talvez tivesse explodido na casa de banho.
Noutro pequeno-almoço, numa pastelaria situada uns 400 metros abaixo do Windows on the World, o antigo director do departamento de comércio internacional, Alan Reiss, não ouvira, sentira ou vira fosse o que fosse. Estava sentado de costas para a janela que dava para a praça interior. De súbito, uma das directoras da Administração Portuária, Vickie Cross Kelly, ao passar junto ao ombro de Reiss encostado à janela, chamou-o
- Deve ter acontecido qualquer coisa. As pessoas estão a fugir pelas arcadas.
Reiss voltou-se. Viu pessoas aterrorizadas, a correr em todas as direcções. Pensou que o caos fora desencadeado por algum louco a empunhar uma arma.
Em 1993, Reiss acabava de abrir a porta do gabinete da cave quando a furgoneta armadilhada pelos terroristas explodiu apenas a 45 metros dele. Mais tarde, fez parte da comissão que dotou as torres de melhores sistemas de evacuação. Segundo a doutrina prevalecente no WTC, as bombas eram consideradas ameaças que podiam causar estragos localizados. Não se previa que provocassem um cataclismo.
Depois de subir um lanço de escadas, Reiss pensou que um camião armadilhado tinha explodido em qualquer ponto à volta do Trade Center. Já não trabalhava na cave, como acontecia em 1993, e, por breves momentos, tentou imaginar quem teria já chegado ao seu local de trabalho, no 88.º andar da torre norte. Lá em cima ninguém tinha ilusões acerca de um carro armadilhado. Logo que Gerry Gaeta, um membro da equipa que fiscalizou os projectos de construção do Trade Center, conseguiu encontrar palavras, gritou "É uma bomba, temos de fugir daqui".
De uma janela do 61.º piso na torre norte, Ezra Aviles viu tudo. Sabia que não se tratava de uma bomba. A sua janela era virada a norte, pelo que viu o avião a deslizar pelos ares, a voar direito à torre. Sabia que atingira o edifício num ponto acima da sua cabeça, só não sabia a que distância. Na realidade, a asa mais baixa rasgou o tecto do 93.º piso, enquanto a asa direita cortou o chão do 98.º; no momento em que Patricia Massari estava a falar ao marido do teste de gravidez.
Para centenas de pessoas que estavam nos andares superiores da torre norte, a morte apareceu sob a forma de um estrondo aterrador. Os restos mortais de um homem que trabalhava na firma Marsh & McLennan, a seguradora que ocupava os pisos 93.º a 100.º, foram encontrados a cinco quarteirões de distância da torre. O Voo 11 da American Airlines terminara de encontro aos escritórios da empresa. O impacte provocou a morte de muitos funcionários que nunca chegaram a saber o que os atingiu.
O Voo 11 embateu no Edifício 1 do WTC, a torre norte, à velocidade de 730 quilómetros por hora; percorreu a ilha de Manhattan a todo o comprimento, 23 quilómetros de norte para sul, em menos de dois minutos. No momento do choque com a fachada norte, o movimento para diante foi interrompido. O avião desfez-se. Pedaços emergiram da fachada sul da torre, do lado oposto à colisão. Parte do trem de aterragem foi encontrado a cinco blocos. O combustível incendiou-se e espalhou-se pelo ar, como se continuasse a voar na direcção que trazia, mesmo sem o avião. Grande parte da energia gerada pelo choque do avião em movimento propagou-se em ondas sucessivas pelo esqueleto da torre norte. As ondas foram transmitidas ao solo firme em que assentavam os alicerces, rolaram para o oceano e ao longo do rio Hudson. O impacte foi registado pelos instrumentos instalados no Observatório Lamont-Doherty, da Universidade de Columbia, em Palisades, 35 quilómetros a norte, e gerou sinais durante doze segundos. A terra tremeu.